A Lusitânia que convido a visitar é uma viagem no
tempo a uma região totalmente romana que, com o fim das guerras civis internas,
a partir do ano 27 a.C., no reinado do imperador Augusto e “criador” da Pax Romana, o Império Romano irá ter um
longo período de paz e de estabilidade durante quase dois séculos. A
pacificação total da Hispania,
designação dada pelos romanos à Península Ibérica, muito contribuiu para que a
vida quotidiana das populações se desenrolasse com paz, tranquilidade e
prosperidade, também será neste período de maior estabilidade que detalhes da
vida quotidiana daqueles que nos antecederam ficaram preservados para a
história, mesmo apesar de não existirem grandes espaços monumentais no nosso
território garanto-vos que vestígios não nos faltam encontram-se é dispersos um
pouco por todo o lado por vezes bem debaixo dos nossos pés. Motivo suficiente
para nos sentirmos pequenos nesta história? Óptimo, a ideia era essa, embarquemos nesta viagem
pelos trilhos dos romanos no Alto
Alentejo pelo distrito de Évora.
Évora
Évora
é como um mil-folhas, camada a camada, foi-se formando desde há mais de dois
milénios que gentes decidiram ocupar esta região para dela fazer o seu lar e a
sua vida. Tem muitos sítios arqueológicos desde o Neolítico à Idade do Ferro no
maior universo megalítico de toda a Península Ibérica, o Cromeleque dos Almendres
(dos mais relevantes monumentos do género na Europa), o Menir dos Almendres e a
Anta do Zambujeiro (o maior dólmen em Portugal) às grandes conquistas Romana e Muçulmana,
à reconquista do território pelos cristãos e formação do Reino alcançando a época
dourada durante o século XV quando se tornou residência dos Reis de Portugal
até aos dias de hoje, tudo se torna claro neste emaranhado: uma cidade rica
carregada de história a descobrir e um centro histórico como Património da
Humanidade pela UNESCO.
Com a pacificação de toda a Península
Ibérica e a reorganização administrativa do território EBORA assume o estatuto de “municipium”
sob a designação de Ebora Liberalitas
Iulia, em homenagem a Júlio César.
Na primeira metade do séc. I d.C. após a fundação da cidade no âmbito do plano
de desenvolvimento urbanístico e de afirmação como pólo aglutinador regional serão
construídas ou melhoradas diversas infraestruturas na cidade com destaque na
edificação de um templo como elemento central do fórum e da praça pública que
se estendia do limite sul do jardim até à Sé e do Palácio da Inquisição até ao
Palácio do Cadaval. Nessa altura a praça pública era o centro social de qualquer cidade romana e local de encontro da
população, das decisões a tomar, onde se afixavam editais públicos ou eram
lidos, em voz alta, as decisões emanadas do senado, em Roma. Desde a morte de Augusto os imperadores tentaram a sua
permanência no poder pela assunção divina e culto imperial tornou-se no
principal meio de coesão do império, no local do fórum é construído um santuário dedicado ao culto imperial centrado
num templo com pórticos monumentais.
Mais tarde, nas dinastias imperiais
seguintes dos Flávios nos reinados de Vespasiano e seus dois filhos Tito e
Domiciano, Évora beneficiou de uma série de transformações urbanísticas como em
tantas outras cidades da Lusitânia, do fórum
e da praça pública, do templo e do edifício público termal.
Da Évora romana como vestígios mais
importantes que sobreviveram até aos nossos dias é o Templo de Diana, o único
vestígio visível do fórum na praça
pública, a envolvê-lo existiria um tanque de água a embelezá-lo, criava um
espelho de água ao seu redor, durante muito tempo foi considerado como dedicado
a Diana, é hoje mais consensualmente
aceite que tenha sido dedicado a culto imperial e, as ruínas do edifício termal público da cidade, construídas
entre os séculos II e III, podem ser visitadas no interior da Câmara Municipal,
na Praça de Sertório, é uma sala circular abobadada, o “laconicum”, destinada para banhos quentes e vapor, o grande tanque com
três degraus, rodeado por um sistema de aquecimento, o hipocaustum, e pelas fornalhas (praefurnium).
A “natatio” (piscina) rectangular ao
ar livre não está acessível aos visitantes.
Laconicum |
A instabilidade do império a partir do séc. III d.C., obrigou
à construção de uma muralha defensiva
em seu redor, da qual alguns elementos ainda subsistem, nomeadamente, o Arco Romano
D. Isabel (antiga porta da muralha romana)
no entroncamento da rua do Menino Jesus com a rua D. Isabel, entre outras, a Porta do Raimundo, Porta do Machede e Porta da
Lagoa ainda na cidade miliário, dedicado ao imperador Maximino (235-238) e Máximo (383-388), na entrada do edifício das
Estradas de Portugal (Circular de Évora – Rua Aníbal Tavares).
Miliário dedicado aos imperadores Maximino e Máximo |
Finalmente, nas imediações do Convento São Bento de Cástris,
por caminho de terra batida ao Aqueduto Quinhentista da Água de Prata, numa das
sapatas assente em materiais diferentes de construção relativamente às actuais,
tudo indica a presença de fortes indícios do anterior Aqueduto Romano, em resultado das últimas sondagens arqueológicas e
alvo de estudos científicos.
Coordenadas: 38º 34´57.2” N 7º 55´41.9” W
Museu de Évora
Ficha técnicaAbertura e encerramentoDuração da visita---
Rota I
Évora – Tourega – S. Brás do Regedouro – Valverde – Nossa
Sra da Boa Fé
Tourega (Évora)
Villa Romana de Tourega ou das Martas
A área arqueológica visitável incide no edifício termal. Os banhos sempre estiveram associados à cultura romana,
para onde quer que fossem, os banhos iam também e não se limitavam à lavagem do
corpo embora o asseio fosse o objectivo, incluindo uma mistura de diversas e
diferentes actividades: libertar suor, o exercício, a sauna, a natação, os banhos
de sol, os jogos com bola, ser “raspado” e esfregado em privado e, nalguns
casos, os banhos eram separados por sexos.
A data de ocupação foi entre o séc. I d.C./séc. IV d.C., e um importante
estabelecimento rural na economia na região pela sua localização limítrofe a
Évora e no apoio à via imperial de Olisipo
(actual Lisboa) a Emerita Augusta
(Mérida).
A entrada fazia-se por um corredor que conduzia a um edifício com duas áreas aquecidas pressupondo-se tratar de um edifício
dotado com termas duplas, para homens
e mulheres, é possível observar a sala dos banhos frios, o frigidarium e uma natatio, e salas destinadas aos banhos quentes, o tepidarium e o caldarium, aquecidas através de um sistema de aquecimento, assente
sobre suspensurae (arcos em tijoleira),
o hypocaustum, sob os quais circulava
o ar quente produzido proveniente das praefurnia
(fornalhas) sobre as quais eram colocadas as caldeiras geralmente de bronze
onde a água aquecida era conduzida através de canalizações em chumbo às salas
dos banhos quentes, no mesmo local as
estruturas de outro edifício de dimensões mais amplas que serviria de armazenamento
de água.
Tepidarium e caldarium |
Frigidarium |
Sistema de aquecimento (hipocaustum) |
Ficha técnicaCoordenadas: 38º 30´05.1 N 8º 01´36.1”
WLocal
Évora/Alcáçovas
(EN380)
em direcção a Tourega por caminho de
terra batida cerca de 800 metros, situa-se nas traseiras de cemitérioAcessoAberto
ao público, sendo para isso necessário solicitar as chaves na casa junto da
igreja, entrada gratuitaDuração estimada da visita
40 minutos
ClassificaçãoIMÓVEL
DE INTERESSE PÚBLICO
S. Brás do Regedouro (Évora)
Ponte Romana?-Medieval de
Alcalainha
Via
romana: consultar vias romanas.pt
Acesso: S. Brás de Regedouro (EN380) no cruzamento para a povoação, caminho em frente de terra batida serão cerca de 3 km
Coordenadas: 38º 26´55.0” N 8º 05´12.8” W
Acesso: S. Brás de Regedouro (EN380) no cruzamento para a povoação, caminho em frente de terra batida serão cerca de 3 km
Coordenadas: 38º 26´55.0” N 8º 05´12.8” W
Valverde (Évora)
Miliário da Mitra (anepígrafo)
Ficha técnicaCoordenadas: 38º 32´06.2” N 8º 00´45.6”
W
LocalÉvora/Alcáçovas (EN380) a Valverde (CM 1079)AcessoNo cruzamento antes da Anta do
Zambujeiro (à esquerda), por caminho em terra batida até ao local, a 200 metrosDistância percorrida1 KmDuração da visita
10 minutos
Anta do Zambujeiro
Menir dos Almendres
Cromeleque dos Almendres
S. Brissos (Évora)
Miliário (anepígrafo)
Acesso: saída Évora/Santiago do Escoural (EN370) a S. Brissos (CM1079-1)
Nossa Senhora da Boa Fé (Évora)
Ponte Antiga do Lagar da Boa Fé
Acesso: Évora/Santiago do Escoural (EN370) a Boa
Fé ponte está sinalizada no interior da povoação
Coordenadas:
38º 33´00.3” N 8º 05´41.1” W
Ficha técnica
Ficha técnica
Época
recomendada
TODO
O ANO
Distância
percorrida
54,0
kms
Duração
recomendada
1
dia
Rota II
Évora – Santuário de Nossa Senhora d´Aires
Aguiar (Viana do Alentejo)
Anta de Aguiar
Aguiar (Viana do Alentejo)
Anta de Aguiar
A
data da fundação da primitiva ermida que deu origem ao actual santuário
perdeu-se na história. Perante tal facto, surgem duas teses esgrimindo cada uma
delas seus argumentos: a primeira, atribuindo a sua fundação à Ordem do Templo,
sustentada pela presença da Cruz de Cristo na capela-mor, a segunda, que
através duma inscrição em latim, atribui a sua fundação ao lavrador Martim
Vaqueira, que por voto, terá ordenado a construção na sua Herdade de Paredes.
Esta Herdade de paredes está num outro debate histórico, uma vez que alguns
estudiosos põem a hipótese que também este espaço religioso, nomeadamente a
designação de Aires, terá emanado da hipotética existência da cidade romana de
Ares, que a existir, teria existido no espaço desta herdade. Deste modo, o nome
de Senhora D`Aires terá evoluído ao longo dos tempos, desde senhora de Ares até
à sua forma actual. O Santuário de Nossa Senhora D`Aires é Monumento Nacional desde 2012.
No
adro do Santuário encontram-se duas aras (inscrições
funerárias) a:
Epitáfio de Letoides
Epitáfio de Euprepria
Ficha técnica
Época
recomendada
TODO
O ANO
Distância
percorrida
31,3
kms
Duração
recomendada
1
dia
Rota III
Évora – Santana do Campo – Santa Vitória
do Ameixial – Estremoz - Évoramonte
Santana do Campo (Arraiolos)
Templo
Romano
Ficha técnicaCoordenadas: 38º 46´00.7” N 8º 01´59.6”
WLocalIgreja Paroquial de Santa AnaAcessoArraiolos (EN370) em a direcção a Santana do CampoDistância percorrida7,8 KmDuração da visita
10 minutosClassificaçãoMONUMENTO NACIONAL
Santa Vitória do Ameixial (Estremoz)
Villa Romana de Santa Vitória do Ameixial
A
cronologia da villa terá sido
construída entre finais do séc. I a.C. e inícios
do séc. IV d.C.. Era uma villa agrícola constituída por
diversas áreas tradicionalmente presentes neste género de edificações, isto é, além da imprescindível habitação do proprietário e família, a pars urbana, localizavam-se toda uma
série de outras edificações destinadas aos criados, a pars rustica, e estruturas às actividades de transformação de
produtos, a pars frumentaria (lagares
de vinho e azeite, celeiro e armazéns diversos) na base da elevação norte, e claro,
o edifício termal.
Sabe-se
que os trabalhos realizados puseram logo a descoberto parte das termas a sala do
frigidarium e o mosaico de Ulisses
em exposição no Museu Nacional de Arqueologia, da casa do proprietário foi
posto a descoberto, o peristylium o tanque central, ao seu redor, salas e quartos
pavimentados a mosaicos, a cozinha e
compartimentos de apoio, esta área da estendia-se ao longo de toda a elevação,
descendo para oeste encontrando-se grande parte sob a povoação.
Ficha
técnicaCoordenadas:
38º 53´58.6” N 7º 40´37.5” WLocalSanta Vitória do Ameixial (EN245), sinalizada à entrada da povoação
Acesso
Encerrada
ao públicoDuração
da visita
10
minutosClassificaçãoMONUMENTO NACIONAL
Évoramonte
Miliário dedicado a Crispo, Licínio Júnior e Constantino
II
Para se ver o miliário que está localizado
no interior da igreja, na maioria das igrejas e capelas encontram-se encerradas
temos que ter conhecimento antecipado dos horários da abertura aquando da
deslocação a este local.
Local:
Igreja Matriz de Sta Maria – a abertura da igreja a 15 de Agosto
Coordenadas:
38º 46´13.4” N 7º 42´59.3” W
em breve (imagens)
Estremoz
Museu Municipal de Estremoz Prof. Joaquim Vermelho
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